Foi ao volante de uma carrinha branca, com ilustrações coloridas e carregada de livros que, na manhã de 7 de maio, João Ferreira Oliveira chegou à Aldeia do Xisto da Figueira, no concelho de Proença-a-Nova, dando assim início à VIAGEM ao INTERIOR dos livros, das pessoas e do país.
Quis o destino que o início desta aventura coincidisse com o regresso ao trabalho do bibliotecário Nuno Marçal, que percorre as aldeias do concelho com a Bibliomóvel há cerca de 15 anos. Com o tempo, as caras, inicialmente desconhecidas, abriram as portas de suas casas e tornaram-se família. Estas pessoas “carregam muito conhecimento e saber. São, bibliotecas em forma de pessoas, mesmo que não saibam ler ou escrever”, considera Nuno. “Muito privilegiado sou por ter conquistado estas amizades”, conclui.
A vinda da Bibliomóvel representa “momentos de encontros e partilha”, conta Joana Pereira, da Casa Ti’Augusta. Gosta de ler desde que se lembra e, por isso, é com alegria que espera “pelas novidades que o Nuno traz de 15 em 15 dias”.
À tarde, foi com alegria e entusiasmo que as crianças da Escola Básica das Sarzedas receberam a Biblioteca Itinerante. Um público exigente, que não se inibiu de perguntar, opinar sobre os livros, escolher a história seguinte ou dar conta da sua realidade, arrancando sorrisos aos adultos presentes. “Todos as noites, leio para a minha irmã”, dizia um dos pequenos.
“Todos os locais são bons para ler uma história. Mas poucos tão belos como este.” João Ferreira Oliveira refere-se ao Parque Fluvial da Lavandeira, na Aldeia do Xisto de Janeiro de Cima. Aqui, o Zêzere é o rei de uma paisagem cujo sossego convida a um mergulho nos livros e a uma leitura que capta a atenção dos pequenos humanos que por ali passeiam.
Também aqui houve oportunidade para partilhar histórias com os alunos da Escola EB1 de Janeiro de Cima, onde o entusiasmo se repetiu.
Na Aldeia do Xisto de Fajão, no concelho de Pampilhosa da Serra, o adro da Igreja foi o ponto de encontro. Miúdos e graúdos foram conhecer este projeto e contribuíram, com certeza, para um dos objetivos: chegar ao fim com a carrinha vazia de livros, mas cheia de histórias.
A Biblioteca Itinerante subiu ainda à Aldeia do Xisto da Cerdeira, na serra da Lousã, para conhecer a história de Kerstin Thomas, a alemã que ali se instalou há mais de 20 anos e aprendeu português com os livros.
“Foi intenso. Correu bem. Foi bonito. Li dezenas de histórias. Dei quase 100 livros. Vi nos miúdos um brilho nos olhos e um à vontade com as histórias que nem sempre encontro nos grandes centros. Discursos moralistas redondos à parte, passei a valorizar ainda mais o trabalho dos professores e os bibliotecários que andam de terra em terra a fazer aquilo que eu estou a fazer uma vez na vida”, escreve, em jeito de resumo, João Ferreira Oliveira na página de Instagram da iniciativa, que segue agora rumo à Rota da Terra Fria (Trás-os-Montes) e que passará também pelo Alentejo Interior e Algarve Interior.