(1960-2011)
Ouvi dizer que partiste. Não sabemos onde estarás neste momento. Talvez estas palavras te encontrem. Encontrámos-te em Aigra Velha, quando a aldeia ainda não era do xisto. Eras simples - sempre foste simples - mas entendias muito da complexidade das coisas. O que não te assustava. Eras homem para mais de sete ofícios. Mas sempre empenhado em cada um deles.
O isolamento da tua aldeia não foi capaz de te isolar do Mundo. E, se calhar por lá estares mais perto do céu, antevias o futuro e apreendias com facilidade o sentido das novas ideias. Acreditaste quando as tarefas ou os projetos pareciam impossíveis. Foi por isso que o teu rosto ficou em muitos deles.
Enviamos-te o nosso agradecimento por teres difundido e mobilizado muitos outros para o projeto das Aldeias do Xisto. Muitas pedras que o construíram foram colocadas por ti.
Os homens são a dimensão da sua alma. E a tua obra é de uma dimensão tal que teve de ficar um bocadinho dela em cada um de nós. E somos muitos os que a sentimos.
Abraços.
Texto: Guia Aldeias do Xisto, Edições Foge Comigo- Guias de Destinos
Pastor, apicultor, pedreiro... e muito mais
Nasceu na Aldeia do Xisto que se encontra a maior altitude - Aigra Velha. E também quis chegar o mais alto possível em termos de conhecimento. Oficialmente, ficou-se pela 4ª classe, concluída em escola a 10 km de casa. Os pais permitiram-lhe ir encomendando alguns livros que lhe chegavam pelas mãos do carteiro. Eram a sua companhia quando, pela serra, acompanhava o rebanho. Aprendeu a conhecer a serra, as pedras, as árvores.
“ - Era esperto.” - testemunharam-nos. Os conhecimentos que foi adquirindo permitiram-lhe que a sua visão ultrapassasse os limites impostos pelo horizonte de cumes que cercam a sua aldeia. Foi pastor. Apicultor. Pedreiro. Sapador florestal. E muito mais. Dominava o uso do fogo para criar pastagens, sem por em causa os valores naturais. Foi o primeiro pastor a dar uma entrevista defendendo a Rede Natura 2000. Se os veados lhe vinham comer as couves da horta, não tinha importância: gostava de os ver a partir das janelas de sua casa.
Podia ter partido e onde quer que chegasse, teria tido sucesso. Mas o querer tudo melhorar e todos ajudar, era um sonho.
De organizador dos jogos tradicionais, fundador da Associação de Melhoramentos, à organização das aldeias para a defesa contra os incêndios, o André liderava, com o consenso de todos. Quando o programa das Aldeias do Xisto chegou, foi ele que entusiasticamente mobilizou os habitantes e proprietários da Aigra Nova, Aigra Velha, Comareira e Pena para algo que antevia ser bom para todos.
Com um prazer genuíno, fazia um favor, ajudava os outros. Sempre disponível, sempre solidário. Se a solução não estava nas aldeias, descia a serra e dirigia-se a qualquer entidade. Em todas era reconhecido e por todas era solicitado. Pudera: conhecia a serra como a palma das suas mãos. Mesmo que fosse numa planta de engenharia ou no monitor de um computador. O homem que se dedicava a todos, esquecia-se de si. Nunca pedia nada em troca. Um sorriso, um aperto de mão, bastavam-lhe.
Onde tudo era difícil, foi sempre optimista. Onde escasseavam vontades, foi sempre o primeiro e empenhado voluntário. Agora, que ele já não está aqui, sente-se muito a sua falta. Mas o seu sonho continua.