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Vendo para Crer, Revendo para Criar: Visões Fotográficas do Xisto, do Zêzere e das Minas da Panasqueira

Vendo para Crer, Revendo para Criar: Visões Fotográficas do Xisto, do Zêzere e das Minas da Panasqueira
arte e cultura
Orientado por Rodrigo Braga e Carlos Casteleira, este workshop de fotografia, no âmbito do Laboratório Aldeias do Xisto, explorou e estimulou a relação dos participantes com o meio envolvente.

Sensibilidade e calma. São as sensações que o fotógrafo brasileiro Rodrigo Braga mais retém do workshop de fotografia “Vendo para Crer, Revendo para Criar” que, com o artista visual Carlos Casteleira, promoveu na Aldeia do Xisto da Barroca, de 15 a 21 de julho de 2019.

O curso, desenvolvido no contexto do Laboratório Aldeias do Xisto, e integrado no PES - Projeto Entre Serras, reforça o papel das Aldeias do Xisto como laboratório vivo que promove a inovação e a imersão para a criação de experiências e aprendizagem conjunta

O workshop juntou oito participantes de vários horizontes geográficos e profissionais. O rio Zêzere e o seu contexto ecológico, biológico (animal, vegetal e mineral), histórico e pré-histórico, social ou mesmo tecnológico foram os elementos centrais desta experiência que colocou os alunos em sintonia com o território que os rodeava.

Os trabalhos foram apresentados no auditório da Casa Grande, na Barroca, dia 21 de julho 2019, e serão exibidos numa exposição a decorrer na apresentação do Projeto Entre Serras na galeria Art Space in Newark da Universidade de Denison - Ohio bem como no território das Aldeias do Xisto numa exposição posterior.

Foi precisamente através do PES que Rodrigo teve o primeiro contacto com este território. “É uma região muito rica e diversificada, que muda muito com as estações do ano”, considera. Por isso, “podem aqui ser criadas imagens infinitas”.

“Vendo para Crer, Revendo para Criar” revela-se uma experiência interessante, na medida em que é “muito plural e singular ao mesmo tempo”. Plural, pela “diversidade de cada participante" e singular porque decorre numa “região única”.

Além do trabalho em sala, apoiado e orientado pelos formadores, o workshop inclui trabalho de campo, incentivando cada aluno a seguir o seu processo criativo e a desenvolver um projeto próprio.

A tendência de cada um dos formadores vai ao encontro das dialéticas da fotografia que o curso pretendia explorar, por exemplo, objetividade e subjetividade, observação e criação, representação e autoria.

“O Carlos valoriza mais a experiência direta, mais crua. Eu trabalho mais com a construção da imagem, uma experiência mais corpórea”, explica Rodrigo.

O fotógrafo vai permanecer em residência artística nas Aldeias do Xisto até final 19 de agosto, numa iniciativa que volta a contar com o apoio das Aldeias do Xisto, do Município do Fundão, através do programa iNature) e com o acompanhamento de Carlos Casteleira. A residência divide-se entre a Barroca e o Cabeço do Pião num acordo concertado com o artista. Rodrigo parte para esta experiência sem uma ideia perfeitamente definida, sabendo apenas que “o xisto e o Zêzere, somados às histórias dos habitantes, são elementos fortíssimos” que não deverá ignorar. A comunicação com as pessoas é, nesta região, “muito fácil”, demonstrando que “estão habituadas a receber gente de fora. É muito interessante e também faz parte da experiência”.

Um workshop que reflete a realidade que o envolve

Apesar da diferente linguagem fotográfica, o discurso de Carlos Casteleira vai ao encontro destas ideias. “Por trás da fotografia há sempre uma realidade. Aqui, o contacto com as pessoas é muito fácil e esta é uma realidade específica que vai sobressair nos trabalhos”, explica, sublinhando que a interação do workshop com outras experiências que acontecem em simultâneo na região contribui também para aquela especificidade. A deslocação a Janeiro de Cima para assistir à apresentação pública do Dark Sky Aldeias do Xisto, certificado como Destino Turístico Starlight, a Fajão para ouvir William Parker, Hamid Drake, John Dikeman e Luís Vicente no âmbito do XJazz- Encontros do Jazz das Aldeias do Xisto ou a integração no programa da caminhada pela Rota dos Pirilampos são os exemplos mais marcantes.

Todas estas experiências motivam os participantes a concretizarem um dos objetivos do workshop. Como explica Carlos, “trata-se, não só de reproduzir a realidade através da fotografia, mas também trabalhá-la de forma consciente, com associação de imagens. Esta é uma reflexão que cada aluno vai ter com a sua aproximação ao território”, considera. O Rio Zêzere e as Minas da Panasqueira marcam a paisagem envolvente e, naturalmente, têm presença forte nos trabalhos desenvolvidos.

Este workshop de fotografia insere-se nas atividades desenvolvidas pelo PES, um projeto de arte contemporânea que explora a ligação entre o homem e o meio que o envolve, procurando também encontrar um equilíbrio entre a tecnologia e a natureza. “Não se trata de recusar o progresso, mas sim de viver com ele de forma equilibrada”, explica Carlos Casteleira, um dos fundadores do projeto.

Encontrar o “outro lado” da fotografia

O workshop juntou 8 participantes de formações, interesses e idades diversas, que, além do gosto em aprender, partilham o gosto pela fotografia. Os trabalhos realizados foram apresentados no auditório da Casa Grande da Barroca a 21 de julho 2019 e serão exibidos numa exposição a decorrer na apresentação do Projeto Entre Serras na galeria Art Space in Newark da Universidade de Denison, Ohio.

“É uma mais valia. Estamos sempre a aprender e gosto de conhecer o trabalho de outros artistas”, considera Andrea Inocêncio, artista visual, que estabeleceu contacto recentemente com as Aldeias do Xisto, no âmbito do doutoramento que está a desenvolver.

Neste território, Andrea sente uma “liberdade” que não encontra na cidade. “É um ambiente mais propício à criação e o facto de ter mais tempo permite-me outro olhar”, explica.

Para o workshop, Andrea procurou lugares onde houvesse uma ligação com a água. Foi em Dornelas que encontrou o local com o qual se conectou, na sequência de uma sugestão de Humberto Simões, outro dos participantes.

Humberto trabalha nas Minas da Panasqueira há cerca de 7 anos e é fotógrafo amador. Participou na iniciativa com o intuito de ganhar outra perspetiva da fotografia. Por norma, as imagens que capta estão relacionadas com história, arqueologia e natureza. Ao contrário dos restantes participantes, não recolheu imagens e optou por trabalhar algumas das que, ao longo dos anos, foi reunindo. A única certeza no momento em que esta conversa decorreu era a de que o seu trabalho final tem a ver com a Barroca. “Esta é uma experiência nova e diferente de tudo a que estou habituado. Estou a tentar o outro lado da fotografia e a ganhar um novo olhar sobre a natureza”, conta. A troca de experiências, conhecimentos e opiniões foram também estimuladas e apreciadas. “Aprendi muito com os meus colegas”, garante Humberto.

Os “pensamentos muito diferentes” e a “ligação natural” que se estabeleceu entre os elementos do grupo é também um dos aspetos realçados por Bruno Medeiros. Originário do Porto, estudou Cinema na Universidade da Beira Interior, na Covilhã, onde frequenta atualmente o doutoramento em Filosofia, com a esperança de conhecer e desenvolver novas ideias para aplicar na arte cinematográfica. Naturalmente, Bruno “fugiu” à imagem estática e optou pelo vídeo. O trabalho procura captar o “dinamismo” que se sente na Barroca e arredores e que ganha “intensidade” junto às escombreiras das Minas. “Há uma zona em que, devido à erosão, quase não há caminho. Não tem qualquer apoio. É como uma dupla vertigem: de um lado a montanha de gravilha e do outro o rio”, explica. “Foi muito proveitoso desde o primeiro dia. Não estava à espera de tanto dinamismo e flexibilidade no curso”, refere. Uma opinião relacionada com o facto de o programa incluir atividades que, aparentemente, não têm a ver com o workshop propriamente dito. “Nunca tinha andado de canoa”, exemplifica. Uma oportunidade que, a par dos acontecimentos atrás referidos por Carlos Casteleira, permitiu ao Bruno e ao restante grupo um contacto direto com o espaço envolvente, colocando-os em sintonia com o território.

Rota dos Pirilampos junta meia centena de participantes

A caminhada noturna Rota dos Pirilampos integrou o programa do workshop desde o primeiro instante. Organizado pelos Caminheiros da Gardunha, o percurso juntou cerca de meia centena de participantes, quase na totalidade sócios e assíduos nos percursos que decorrem ao longo de todo o ano.

Com início na Praia Fluvial da Barragem de Santa Luzia, o percurso seguiu pelo paredão da Barragem de Santa Luzia, cruzando para a outra margem do rio Unhais.

A partir daí, percorreu os recortes da albufeira, contornou a aldeia submersa de Vidual de Baixo. Já com a noite a fazer-se sentir, ao longe, na outra margem, três luzes piscavam. São “Os Pirilampos”, a intervenção artística de Erik Samakh, que conta com o apoio do PES e, como explica Carlos Casteleira, alerta para o impacto do ser humano nos ecossistemas, colocando em risco a biodiversidade. São pequenas luzes que se alimentam da energia solar e assinalam também a integração dos lugares, territórios e parceiros ao Projeto Entre Serras, constituindo assim uma cartografia in situ.

Mas foi também possível ver pirilampos “verdadeiros”, motivo mais que suficiente para parar uns instantes e dar uso às câmaras cada vez mais sensíveis dos smartphones. A caminhada seguiu depois para o Vidual, por um caminho que oscila entre a crista e a encosta das elevações. A noite terminou na Portela de Unhais, onde os participantes partilharam um lanche e retemperaram energias.

“Acima de tudo, apreciem e divirtam-se. E sintam os cheiros da natureza”, aconselhou David Caetano, da organização, no briefing inicial. Assim fizemos e, olhando para o céu, foi fácil perceber, uma vez mais, a razão pela qual o Dark Sky Aldeias do Xisto recebeu a certificação de Destino Turístico Starlight, atribuído pela Fundação Starlight.


Texto: Andreia Gonçalves

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