Participaram cerca de 30 pessoas, mas foram bem mais as que, a 4 de agosto, se juntaram para assistir à prova de perícia com barcas tradicionais que, anualmente, se realiza na Aldeia do Xisto de Janeiro de Cima, em pleno rio Zêzere.
Ninguém nos soube dizer ao certo desde quando esta iniciativa acontece, mas há dados que são consensuais: a prova acontece há mais de 10 anos e esta é uma das atividades que já tem lugar cativo no calendário de verão da Aldeia.
Integrada no programa da também habitual caminhada "A Pé Pelos Caminhos de Janeiro de Cima", que este ano juntou cerca de 150 pessoas, a prova de perícia com barcas tradicionais é motivo mais que suficiente para juntar famílias, amigos, habitantes e visitantes curiosos para reviver ou conhecer uma tradição que é um dos orgulhos da comunidade local.
“Saio daqui sempre com a alma cheia”. As palavras são do presidente da ADXTUR- Agência para o Desenvolvimento Turístico das Aldeias do Xisto, Paulo Fernandes, depois de dar início a mais uma edição da prova. "A vara é um um pouco curta, mas correu muito bem e sem incidentes”, acrescenta.
É pelo menos a terceira vez que Jorge Martins vence esta prova de perícia. "Sempre participei na prova, já são muitos anos", afirma com orgulho. Um orgulho que ganha mais força nas palavras que diz logo de seguida: "sou filho de pessoas que faziam barcos e já fiz alguns".
Albertina Dias, habitante de Janeiro de Cima, assiste à prova desde sempre. Começou a participar há quatro anos. “Quando era jovem, aprendi a deitar o barco. Mas depois nunca mais toquei na vara. Entretanto, fui dar uma volta na barca grande, voltei a experimentar e consegui”, conta-nos. Desde aí, é presença assídua na prova.
O marido, Américo Dias, participa na prova desde o início. “Conheço bem o rio, desde a garganta do Zêzere até ao Penedo do Barroco”, garante. Faz, por isso, questão de participar numa das tradições que marcam a história da aldeia e que ajudam a mantê-la viva. “As aldeias não podem parar, temos de manter as tradições e evoluir”, considera.
José Capitolino, de Tomar, foi um dos estreantes. Há alguns anos que assiste à competição e até já foi árbitro. Este ano decidiu, pela primeira vez, agarrar o desafio e passar da margem para a barca. “Correu bem, mas acho que estou em último”, diz bem-disposto. Afinal, o objetivo não é ganhar, é mesmo participar e desfrutar do rio e da companhia de todos os que, neste dia, se juntam no Parque Fluvial da Lavandeira.
Project@X - Por este rio acima
O dia ficou ainda marcado pela inauguração da Exposição PROJECT@X - Por Este Rio Acima ao Zêzere e pelo regresso da barca produzida no âmbito do projeto com o mesmo nome. Após a viagem inaugural a 22 de julho de 2019, “Janeiro de Cima” – assim se chama esta interpretação contemporânea da barca tradicional - voltou aos estaleiros para se preparar para a temporada do verão no rio. A 4 de agosto, juntou-se às barcas tradicionais e fez as delícias de todos os que quiserem manobrá-la rio acima, rio abaixo.
Em tempos passados, a barca era o único meio de ligação entre as duas margens do Zêzere. É um dos símbolos de Janeiro de Cima e revela a forte ligação estabelecida entre a população e o rio.
Como ouvimos várias vezes ao longo do dia, as tradições são se manterem e, por isso, para o ano, em agosto, há nova caminhada, nova prova e, certamente, novos reencontros.
Texto:
Andreia Gonçalves