Encontrámos Jane e Roland, um casal alemão, na esplanada do Bem Me Quer, o restaurante que integra o alojamento Xisto Sentido. É a quarta vez que passam pela Aldeia do Xisto de Martim Branco e estão rendidos à região. Tanto, que procuram uma casa, grande, com algum terreno, para se fixarem e poderem receber os quatro filhos e os amigos que os queiram visitar.
Descobriram o Xisto Sentido depois de uma passagem por Évora. Prometeram-lhes um bungalow cheio de conforto com vista para um espelho de água. Na realidade, encontraram uma divisão pequena, com vista para uma poça. Em busca de uma alternativa, expandiram a área geográfica e cruzaram-se com este alojamento que tem vindo a dinamizar a Aldeia do Xisto nos últimos anos e ao qual vão regressando. "É tão agradável", diz Jane. Roland acena em concordância, explicando depois que já viaja para Portugal, em trabalho, há cerca de 20 anos, mas é por aqui que querem ficar.
Depois de dois dedos de conversa, aceitam o nosso convite para assistir ao espetáculo de fado que começará dentro de instantes na vizinha Casa de Artes e Ofícios. Num espetáculo integrado no Ciclo de Fado Aldeias do Xisto, o Fado ao Centro apresentou-se perante um recinto praticamente cheio. João Farinha, na voz, Diogo Passos, na viola, e Hugo Gambóia, na guitarra de Coimbra, trouxeram magia e um serão diferente.
Cada canção é contextualizada e recordam-se ali momentos que marcam a história de Portugal, como o movimento estudantil em Coimbra, nos finais da década de 60, ou a emigração de milhares de pessoas, em busca de uma vida melhor.
“Coimbra é uma lição” e a “Balada da Despedida” não ficaram de fora do repertório e puseram o público a cantarolar. “Martim Branco tem mais encanto na hora da despedida”, adaptou João Farinha, no final. "Simpáticos", ouvimos alguém do público comentar.
O espetáculo terminou, mas o público não desmobilizou. Norberto, criado na aldeia, subiu ao palco para agradecer a iniciativa e a colaboração de todos quantos possibilitaram a realização desta iniciativa em Martim Branco.
Mas, nada por estes lados se dá por terminado sem que o fim seja devidamente assinalado. Por isso, os músicos foram convocados novamente para cantarem a “abaladiça”. Um desafio prontamente aceite. E só depois de Canção de Coimbra voltar a soar é que o Fado ao Centro pôde, de facto, abalar.
“Contentes?” Pergunta-nos o João, nascido e criado na aldeia. "Nós estamos, e você?”, perguntamos de volta. “Também. Gostei muito”, disse, para logo depois improvisar umas rimas. “Sou muito conversadeiro”, diz-nos, antes de partir em busca de novos ouvintes.
A satisfação era, de resto, geral. “É um prazer cantar nesta zona, uma das mais bonitas do país”, garantiu João Farinha, que realçou ainda as iguarias servidas ao jantar no Bem Me Quer. “Estava tudo delicioso. Aconselho o cabrito no forno e as bochechas de porco preto”, disse.
Aos habitantes da Martim Branco juntaram-se os que dali são, mas vivem fora, e as pessoas das aldeias vizinhas, como o Padrão ou Almaceda. Sempre que questionámos, a resposta foi sempre pronta: “Foi muito bonito”.
Também Jane e Roland deixaram o recinto satisfeitos. Além da oportunidade de ouvir o Fado, ganharam pelo menos um contacto para ajudar na busca da casa perfeita.