Quando Portugal olha para si próprio não é apenas um país marítimo. É feito também de aldeias, de agricultura. Está ainda ligado à compreensão da natureza, às relações humanas – que tão bem definem os portugueses. No interior, existem as Aldeias do Xisto, um território repleto de sonhos por descobrir e que Rui Simão, Coordenador Executivo da Agência para o Desenvolvimento Turístico das Aldeias do Xisto (ADXTUR), nos descreveu. Conheça melhor esta identidade nacional.
A Rede Aldeias do Xisto é um projeto de desenvolvimento sustentável de base regional e de escala supramunicipal, que agrega 20 municípios e mais de 200 agentes públicos e privados, na Região Centro de Portugal. Desde logo, a missão primordial, centrou-se na recuperação das comunidades, começando pelas infraestruturas, como o saneamento, a água e as telecomunicações mas não só. Foi também importante elevar a autoestima da população, e restabelecer uma ideia de futuro que estava há muito perdida no tempo. “A idade da pedra”, é assim que Rui Simão, o nosso entrevistado, caracterizou esta primeira fase, tendo sido ela o arranque para o nascer da esperança – algo básico, mas tão digno como a reconstrução de fachadas, coberturas, espaços comunitários e edifícios públicos. Superado com sucesso este desafio e já com a Rede das Aldeias do Xisto constituída, integraram-se ainda as praias fluviais, os percursos pedestres e uma mão cheia de parceiros na área do turismo.
A segunda fase, curiosamente intitulada por “dores de crescimento”, focou-se no alargamento da oferta, no crescimento da notoriedade, na afirmação dos valores fundacionais da marca Aldeias do Xisto, como a vitalidade das comunidades, a valorização do modo de vida, a responsabilidade social, o bem-estar individual e coletivo, a salvaguarda da natureza, o espírito de união. Com esta etapa concluída, eram já mais de cem as unidades de alojamento e uma imensidão de pessoas orgulhosas por pertencer a este projeto.
Passo a passo atingiu-se a terceira fase – a da transformação da notoriedade em negócio. A evolução para um projeto capaz de criar, produzir e projetar bens e serviços de qualidade acima de tudo representativos da identidade cultural do território, identidade essa preparada para chegar a ouvidos nacionais e internacionais.
Com mais de 500 quartos agregados no Book in Xisto (uma plataforma de reservas exclusiva, disponível em cinco idiomas, funcionando sob os princípios do comércio justo, e com todas as informações pertinentes para tornar a experiência ainda mais inesquecível), as Aldeias do Xisto apresentam atualmente o que de mais surpreendente contém o interior de Portugal. Hoje, é possível apontar no mapa a sua localização exata. Parece irrelevante? Não nos esqueçamos que, por vezes, as paisagens mais vibrantes são também as mais desconhecidas. A ADXTUR tem o brio e a ousadia de hoje poder apresentar estes destinos hoje graciosos mas em tempos desvalorizados.
Para Rui Simão, há lugares especiais neste território e que quem visita não deve deixar por descobrir. “Se tivesse de escolher um roteiro, escolhia a grande rota das Aldeias do Xisto. Essa viagem tem de passar pelo menos por quatro unidades distintas de paisagem: a Serra da Lousã, a Serra do Açor, o Vale do Zêzere e a Beira Baixa. O ideal seria uma estadia de dois ou três dias em cada uma delas e tenho a certeza que no final ficaria com vontade de conhecer o restante território”.
Simbiose entre o passado e o presente
A defesa do espírito da vida comunitária, da maneira de ser e de estar nas aldeias, as relações humanas e a natureza são, claro está, fatores a manter e que, efetivamente, neste território são possíveis de potenciar. Com efeito para a ADXTUR este é um pensamento fundacional. Essa perspetiva que queremos obviamente preservar não é apenas para salvaguardar as aldeias e o seu modo de vida. Queremos projetá-las para o futuro. Queremos que Portugal lhes reconheça valor, que as veja como reservas da identidade nacional e daquilo que é ser português”, explica Rui Simão.
Para que na prática seja concretizado, têm sido realizadas iniciativas que ligam o design com a natureza e com as comunidades. Feiras nacionais e internacionais também têm tido uma forte presença de todos os que englobam o projeto Aldeias do Xisto e que com ele levam aos cantos do mundo a riqueza do interior de Portugal. O objetivo é, no fundo, conhecer o caminho da modernidade, mas sem esquecer aquilo que define este território: os segredos do passado. “Não podemos perder a capacidade de fazer pão, de plantar abóboras, de confecionar os queijos, de construir com as próprias mãos o mundo que nos rodeia”, afirma o nosso entrevistado, acrescentando ainda que “a complementar o que são as nossas tradições, temos de projetar pensamento novo e criar iniciativas que nos elevem, que ergam o nosso território, temos de criar o desejo e até a perceção de valor na cabeça e no coração de quem lida connosco”. Certo é, que o espírito de união e de parceria permanecerão até ao fim dos tempos.
Resiliência posta à prova
Em todo o mundo vivem-se tempos incertos e, para muitos, até mesmo desmotivadores face à pandemia que se instalou na sociedade. Porém, a verdade, é que a marca Aldeias do Xisto nasceu do encontro entre a força dos resistentes e o espírito dos utópicos. “A nossa capacidade de resistência sempre esteve à prova, desde o início que muitos não acreditavam que fosse possível erguer um projeto como este e que temos em mãos há já 20 anos. É um orgulho fazer parte desta história”, explica Rui Simão. Com isto, o nosso entrevistado refere-se ao ano de 2017, aquando dos incêndios que deflagraram de forma trágica e que, também nesse momento, o futuro estremeceu. No entanto, lado a lado com as 27 aldeias, em conjunto com parceiros e associados e com as imensas pessoas que lidam com regularidade com este projeto, foi possível não só erguê-lo como elevá-lo, uma vez que a essência das Aldeias do Xisto não é suscetível de arder.
Com uma superação forte o suficiente para seguir em frente, sucedeu-se uma série de acontecimentos (como tempestades ou derrocadas) que podiam ter atribulado esta convicção, mas não foi o caso.
“Haverá tempo para desfrutar novamente do Centro de Portugal”, foi a mensagem do Turismo do Centro de Portugal após o aparecimento da COVID-19. Assim, em conjunto com a rede de parceiros regionais e nacionais a ADXTUR percebeu qual era o passo seguinte. Ao longo de dois meses a venda turística deixou de ser prioridade e começou-se a planear a sua reabertura. "Portugal cresceu imenso nos últimos anos, mas com esta problemática percebemos que, em termos estruturais, estava muito direcionado para o mercado externo. Com a pandemia, teve de olhar para dentro e descobrir o turismo nacional. Esta situação colocou em vantagem todos os territórios menos expostos ao vírus, contudo tiraram melhor partido aqueles que estavam mais organizados e as Aldeias do Xisto estavam”, assegura Rui Simão.
Uma das ferramentas que se torna útil neste contexto é o Book in Xisto que permite que se possa planear e reservar aquela que será a experiência mais conveniente para cada um, de acordo com as suas motivações, não deixando de existir um back office humano que “entra em contacto com quem fez a reserva e tenta perceber quais são as motivações e os interesses e assim sugerir, a partir da localização escolhida, o que pode visitar. No fundo o objetivo é maximizar a experiência de quem vem”, reconhece o nosso interlocutor.
Na página oficial das Aldeias do Xisto (www.aldeiasdoxisto.pt), decorre um artigo em permanente atualização com informações pertinentes, como as medidas pela segurança e bem-estar comum recomendadas pelo Turismo de Portugal, o que pode fazer antes de sair de casa para se proteger ou até quais os alojamentos com o selo Clean&Safe. O My Xisto Trails foi ainda concebido para que, por iniciativa dos visitantes, saibam onde se encontram as praias fluviais, os percursos pedestres, os trilhos de BTT, os miradouros, os pontos para observar a natureza ou o céu noturno, entre outros.
Um 2021 feliz
Rui Simão confessou-nos que os meses do verão passado foram extremamente positivos, nunca tendo havido tantas reservas e solicitações. “Temos uma agilidade muito grande, uma coesão imensa ao nível da parceria, somos capazes de responder rapidamente em grupo e é inegável que foram esses fatores que nos deram vantagem neste ano tão complexo, no entanto as Aldeias do Xisto querem crescer sim, mas num país que cresça também. À medida que as Aldeias do Xisto se vão afirmando, Portugal também ganha porque ganha mais um pedaço de si próprio”, admite. Com a plena determinação na cooperação da rede, o nosso entrevistado acredita que a ADXTUR será uma mais-valia para o crescimento nacional e por esse motivo estão já a ser programadas iniciativas que farão com que 2021 seja um ano feliz.
Com os olhos pontos neste futuro próximo, estão já à venda neste Natal, vouchers válidos em toda a rede das Aldeias do Xisto para usar ao longo de 2021. "O que queremos transmitir com isto é confiança, queremos dizer que estamos cá, o território está cá, a natureza e a natureza das pessoas também cá estão. Para nós o distanciamento físico não é igual ao distanciamento social. Podemos ser intensamente próximos sem estar fisicamente em contacto”, afirma Rui Simão. Estes vouchers podem ser utilizados tanto em época baixa como alta e podem ser adquiridos através do Book in Xisto, para utilizar em restaurantes, hotéis, casas, experiências, entre todos os produtos presentes na plataforma.
É com esperança e otimismo que a ADXTUR encara um ano de 2021 favorável para todos, não esquecendo que haverá certamente a necessidade de darmos asas novamente ao espírito livre que mora dentro de nós. Assim, o nosso entrevistado deixa um convite a todos os que queiram, no próximo ano, visitar este território: “Venham descobrir esta identidade nacional que guardamos com tanta delicadeza, venham fazer parte da nossa história. Quem procura encontra-se. Quem vier às Aldeias do Xisto transforma-se”.