Conhecer pessoas e sítios novos, aprender e desenvolver um trabalho útil. São estas algumas das motivações dos 12 jovens de vários pontos do mundo que, de 17 a 28 de setembro, participaram no Campo de Trabalho Internacional promovido na Lousã pela Activar.
Intitulada “Por este Rio Acima”, a iniciativa colocou os jovens a trabalhar na limpeza de um troço entre a Piscina Natural da Nossa Senhora da Piedade e o conhecido “escorrega”.
Efflam e Solenne, vêm de França; Nina, Maxi e Chiara, da Alemanha; Vanessa e Adele, representam a Itália; Katya, veio da Rússia; Ali, do Iraque; Alvar, chega da vizinha Espanha; Ania, da Polónia; e Marlene é do México.
Ao grupo juntaram-se ainda o italiano Massimo e a eslovaca Božena. Ambos vão estar na Lousã ao abrigo de um programa, também da Activar, para trabalhar com crianças.
Solenne chegou a Portugal com vontade de trabalhar na floresta, conhecer o país e pessoas novas, assim como todos os outros jovens que a acompanharam.
Alvar partilhou a motivação. Ao ter conhecimento desta iniciativa, pesquisou e interessou-se pelo trabalho e pela zona. Mostrou-se satisfeito com a aposta e há de voltar com amigos. “Quero vir e mostrar-lhes o trabalho que fizemos. Vou dizer-lhes que conseguem passar nos trilhos, porque eu limpei”, disse a brincar.
Além dos motivos comuns aos colegas de aventura, Katya carregava também um propósito profissional. A sua área de interesse é a Geografia e, por isso, queria explorar paisagens, plantas e climas diferentes. “Na Rússia não temos este tipo de paisagens e é interessante conhecê-las no local”, frisou. Por outro lado, valorizou o facto de esta ser uma experiência que lhe permitiu conhecer pessoas que não “os típicos turistas” e conviver com as gentes locais.
Os dias começavam mais ou menos da mesma forma: cerca das 09h00, os jovens reuniam-se à porta da Pousada da Juventude, onde estavam alojados, para serem transportados até ao local onde trabalhariam durante toda a manhã. No dia em que acompanhámos a atividade, o ponto de partida foi o Castelo da Lousã. Aqui, os jovens dividiram-se em duas formações, seguindo direções diferentes, mas com encontro marcado a meio caminho.
O grupo foi acompanhado a tempo inteiro por dois monitores, a Daniela e o Pedro. Para os trabalhos, juntavam-se Bruno e Nuno. Foi com o grupo de seis raparigas orientado por este par que partimos, cerca das 09h30, seguindo pelas margens do rio que alimenta a piscina.
O objetivo era desimpedir o caminho, garantindo que os trilhos da Rota dos Moinhos estão operacionais para os caminheiros que ali queiram passar e que o rio consiga seguir o seu fluxo normal. É que, bem cedinho, uma equipa da Aflopinhal esteve no local a cortar árvores e troncos, que era preciso retirar.
Em poucos minutos, e já envolvidos pela vegetação tão característica da zona, surgiu o primeiro desafio. “Não estão a pensar ir lá abaixo, pois não?”, questionou a alemã Chiara, olhando com surpresa para a quantidade de troncos e ramos que se acumulam mesmo no meio da água.
Sim, foi preciso ir lá abaixo. Em equipa, a tarefa foi desempenhada rápida e eficazmente: troncos afastados, caminho desimpedido e água a correr livremente. É, então, tempo de seguir em frente.
Cerca de duas horas, muitos ramos e troncos, algumas cantorias e brincadeiras depois, os dois grupos voltaram a encontrar-se, já junto ao “escorrega”. O grupo liderado por Daniela e Pedro dedicou a manhã à limpeza de ervas e ramos, libertando o trilho final para os caminheiros.
Antes do regresso, tempo para uma pausa. Quase todos quiseram tomar banho e experimentar o “escorrega”, o que motivou algumas gargalhadas.
Enquanto isto, Katya, Solenne e Alvar ficaram na sede da Banda Filarmónica da Lousã, espaço onde se desenvolveu toda a componente social do Campo de Trabalho, responsáveis pelo almoço e demais refeições do dia.
“Têm 70 euros por dia, com os quais têm de comprar a comida para o almoço, jantar e pequeno-almoço do dia seguinte”, explicou Pedro, acrescentando que a gestão é da inteira responsabilidade dos jovens, que assumiram as tarefas domésticas de forma rotativa e previamente escalada.
Para garantir que nada escapava, foi organizado e afixado na parede um calendário com os horários e atividades.
“A ideia é que ganhem alguns skills que ainda não têm. São novos e a maior parte não está habituada a realizar determinadas tarefas”, explicou também.
O plano de atividades, previamente definido contemplou vários momentos. Além dos trabalhos de limpeza, o Campo de Trabalho Internacional colocou os participantes em contacto com a comunidade e dando-lhes oportunidade de, tal como era seu objetivo, conhecer pessoas, culturas, tradições.
“Queremos entrosá-los na comunidade”, dando conta que houve várias atividades e visitas organizadas. O grupo passou pelo Rancho Folclórico, visitou a Fábrica de Papel do Prado, passeou pela vila, participou numa caminhada noturna até à Aldeia do Xisto do Talasnal e organizou um espetáculo de música ao vivo, onde foi apresentado um vídeo sobre o trabalho desenvolvido.
Entre as atividades, e diariamente, havia tempo livre, para gastarem à sua maneira. “São muito de ficar aqui, não andam muito pela rua”, revela Pedro.
Dentro de portas, as atividades centraram-se na troca de experiências e conhecimentos, com momentos de partilha em que cada um dos membros pôde falar da cultura do seu país: o que se come, o que se ouve, o que se vê, o que se faz, se faz frio, se faz calor.
A heterogeneidade cultural, a par da maturidade e personalidade de cada um dos participantes fazem dos campos internacionais uma aventura também para os monitores que os acompanham o tempo inteiro.
“Nem sempre é fácil encontrar uma estratégia de orientação”, começa por dizer Daniela. São culturas diferentes, uns são mais maduros que outros e muitos deles são centrados em si próprios, pelo que às vezes é preciso encontrar métodos diferentes.
Para a monitora, para quem esta é a segunda experiência do género, no final de uma semana e meia de Campo são notórias algumas melhorias. “O facto de agradecerem as refeições que os colegas prepararam”, algo que não acontecia ao início, é apenas um dos exemplos, mostrando assim que a aposta nestas iniciativas e na formação de jovens terá sempre os seus frutos.