Mordente, claro, escuro, tecido, cor. Estas foram algumas das palavras que marcaram o workshop de tingimento que decorreu entre 12 e 16 de março de 2018, em Janeiro de Cima. A Zelinda, a Lurdes, a Isaura, a Rosa e a Sónia, habitantes da aldeia, e as designers Daniela Pais e Ana Evaristo foram as alunas atentas de Alicia Mediavilla Arranz. Durante cinco dias, a artista plástica espanhola ensinou técnicas de fixação de cor amigas do ambiente e partilhou dicas e sugestões.
Alicia é artista têxtil há 25 anos, mas foi só há cinco que regressou ao século XVIII e começou a investigar técnicas antigas de tingimento, procurando uma fonte limpa de cores, não só para a indústria têxtil, a segunda mais poluidora, mas também para todos os nichos de mercado que envolvam cor e tingimento.
Alicia acredita que o mundo se encontra numa "grande embrulhada", no que à poluição diz respeito. Procura, por isso, outros meios para dar seguimento ao seu e a outros trabalhos, minimizando o impacto que a atividade tem no ambiente e mesmo nas pessoas que nela se inserem.
Assumindo-se simplesmente como um canal, a artista quer partilhar o seu conhecimento e fornecer às populações com que lida competências e conhecimentos, munindo-as de ferramentas para criarem e/ou manterem as suas atividades de forma sustentável.
As técnicas que Alicia partilhou, como o ecoprint, em que o tingimento é feito a partir de flores e plantas, são apenas, como faz questão de salientar, uma proposta. A artista conta que, atualmente, estão em desenvolvimento técnicas de coloração a partir de bactérias ou cogumelos. O que realmente importa é garantir que "as pessoas conheçam as técnicas e consigam adaptá-las ao seu trabalho".
A experiência que Alicia tem vindo a ganhar ao longo dos últimos anos não invalida, contudo, a experimentação. "Será que as folhas da árvore do dióspiro também servem?", questionam as formandas. É preciso experimentar para saber.
O interesse, a curiosidade e a procura de soluções foram uma constante durante os cinco dias de workshop, marcado também por um clima familiar, tão característico de lugares como Janeiro de Cima, em que todos se conhecem "desde sempre". Entre tecidos, dúvidas, folhas e esclarecimentos ou sugestões, houve sempre espaço para as conversas do quotidiano.
No final, as expectativas não foram defraudadas e não houve qualquer hesitação na resposta à pergunta "valeu a pena?". Sim, valeu. E os ensinamentos serão aplicados mais vezes, garantem todas.
Se as designers ou a Sónia, uma das responsáveis pela Casa das Tecedeiras, tiram daqui lições para a sua vida profissional, as outras participantes responderam à curiosidade e gosto pessoais, ao mesmo tempo que se envolvem num projeto que vai trazer o linho de volta à aldeia e às margens do Rio Zêzere.
O linho está de regresso
O Laboratório Terra - O Regresso do Linho, promovido e gerido pela ADXTUR, tem orientação do designer Yoád David Louxembourg, está inserido no programa "Aldeia Escola", e vai recuperar a cultura do linho em Janeiro de Cima. Apesar de extinta, esta tradição faz parte da memória da população e continua presente na atividade da Casa das Tecedeiras.
A ideia é incrementar o uso da terra e torná-la rentável outra vez, atraindo as pessoas para as aldeias e, assim, inverter a tendência que se tem verificado nos últimos anos.
A atração de turistas é uma das componentes do projeto. Como? Chamando-os a participar e a integrar projetos de relevância social, económica e cultural. Promovendo a troca de conhecimentos entre quem está e quem vem. Garantindo experiências únicas e autênticas. Tudo isto em comunhão com a comunidade local.
Texto: Andreia Gonçalves