A correr, em BTT e de canoa nas águas bravas do Zêzere, desde Silvares, no concelho do Fundão, até Cambas, no concelho de Oleiros. Foi este desafio de 37Km que os embaixadores da GRZ- Grande Rota do Zêzere aceitaram e concretizaram no dia 1 de dezembro.
Três anos depois da inauguração da GRZ, Emanuel Silva, João Garcia, José Artur Pinto, Luís Coelho, Miguel Caçador, Miguel Tolda, Paulo Coelho, Paulo Mourão, Pedro Pedrosa, Ricardo Gonzalez, entre outros, voltaram a juntar-se para uma versão de inverno da Rota, abrindo assim a época de águas bravas no Rio Zêzere. Aos embaixadores juntaram-se ainda atletas do clube local BTT Gardunha.
Consulte aqui o percurso completo da GRZ, com mapas e tracks GPS para download.
Até à Primavera, os amantes da vida ao ar livre encontram neste território as condições ideais para a prática de vários desportos, com especial destaque para a canoagem. As águas vivas do Zêzere garantem, nesta altura do ano, uma experiência incrível e surpreendente até mesmo para quem já conhece o mundo, como é o caso dos embaixadores da GRZ.
Em comunhão com a natureza
“É um trajeto muito bem pensado e elaborado. Quem o pensou e fez está de parabéns”, considera Emanuel Silva, canoísta olímpico.
“Há poucas passagens automóveis, muito contacto com a natureza. Há muitos troços em que estamos apenas entregues à natureza e ao nosso instinto”, descreve o atleta.
O alpinista João Garcia subscreve: “Há alturas em que estamos mesmo isolados e temos uma enorme sensação de comunhão com a natureza”, diz. O conhecido alpinista, que já subiu a algumas das mais altas montanhas do mundo, realça assim a “generosidade da natureza”. “As garças, os patos bravos e as paisagens que aqui encontramos provam que em Portugal há natureza bonita e que temos de valorizar”, defende.
A natureza em estado quase selvagem, onde a riqueza da flora e da fauna é notável, combina-se em perfeita harmonia com a ocupação humana que, ao longo dos tempos, se adaptou à passagem do rio, vivendo dele e com ele. Por isso, atravessar este território revela ser mais que uma simples aventura desportiva. É, acima de tudo, uma experiência de vida, completa e enriquecedora, que permite conhecer os hábitos, as tradições e o modo de vida das comunidades ribeirinhas e com elas interagir.
“É uma zona que foi alterada pela mão do homem, mas sempre em sintonia com a natureza. É, por isso, única e incrível”, refere Paulo Quelhas, responsável do BTT Clube Gardunha, que conhece bem este troço e assume especial preferência pela zona do Cabeço do Pião, onde a paisagem é marcada pelas escombreiras da Lavaria das Minas da Panasqueira.
Está-se em plena época da apanha da azeitona, e passar pelas pessoas e receber um acolhedor ‘boa tarde’, foi, nas palavras de João Garcia e Marta Salvador, da A2Z, “uma surpresa muito boa”. De tal forma que ambos apontam este breve convívio como um dos pontos altos da jornada.
De Silvares a Cambas são 37km de distância
A canoagem é, nesta altura do ano, a modalidade rainha, mas também de BTT ou em Trail Running é possível sentir de perto aquele que é um dos rios mais selvagens do nosso país. E foi isso mesmo que aconteceu.
O dia começou com nevoeiro em Silvares, no concelho do Fundão. Cumprimentos dados, atletas equipados e, antes da partida, um briefing rápido. Manuel Franco, da A2Z Adventures, resume a primeira fase do percurso e aponta os locais onde é necessária mais atenção. Com uma certeza, contudo: “vai ser muito divertido”. Pouco antes, e já com o sol a espreitar pela bruma, Pedro Pedrosa, um dos embaixadores, antecipava aquela que seria uma “descida relaxada para apreciar e desfrutar do rio”.
A esta descrição simples, mas muito fiel do que foi este dia, juntar-se-ão, mais tarde, outros sentires. Espetacular, fantástico, interessante, surpreendente foram algumas das palavras mais usadas para descrever esta aventura, em que a paixão pelo desporto e pela natureza, a boa disposição, a amizade e o companheirismo foram as linhas mestras.
O percurso que liga Silvares à Aldeia do Xisto da Barroca, cerca de 9km, foi feito em canoa e BTT, com os atletas a atravessarem terreno mineiro. As imponentes escombreiras das Minas da Panasqueira, no Cabeço do Pião, marcam a paisagem. Aqui, o rio inicia o seu troço mais sinuoso e entrançado. Quase inevitavelmente, somos invadidos por uma gigante sensação de pequenez, misturada com o espanto, e uma certa euforia até, ao testemunharmos a beleza natural que nos surpreende a cada curva do rio. Uma sensação que nos há-de acompanhar ao longo de todo o percurso e, certamente, permanecerá algum tempo.
A comitiva chega à Barroca mais depressa que o previsto. Depois de uma pausa para repor energias, guardam-se as canoas na Estação Intermodal (EI). Ao longo da GRZ há 13 EI’s que permitem a troca de modalidade sem que o percurso seja interrompido.
A próxima paragem é em Dornelas, um troço mais curto, 5km, mas igualmente atraente. Seguem-se os meandros do Zêzere, junto às Aldeias do Xisto de Janeiro de Cima e Janeiro de Baixo. Algumas horas e cerca de 37km depois, o dia termina na Praia Fluvial de Cambas, já o sol escapou por detrás das serras.
Percurso mostra o que de bonito há em Portugal
“Todo o percurso é bonito, com paisagens espetaculares, tanto para quem está na água como em terra. Dá para ver o que de bonito há em Portugal e que temos de valorizar”, considera Emanuel Silva, confessando que ficou “curioso” para fazer o percurso completo da GRZ. “Mas de bicicleta, para ser diferente”, diz, sorridente.
Para João Garcia, que abraçou o projeto da GRZ desde início, “foi um dia espetacular e no qual participei com todo o gosto”. De percurso feito, destaca a qualidade da água, que continua “impecável”, e o segmento final, entre Janeiro de Baixo e Cambas. “Gostei muito dos rápidos. É uma parte bastante técnica, menos monótona e que obriga a tomar mais atenção”, destaca.
O alpinista chama a atenção para a riqueza dos “equipamentos naturais de desporto” que existem em Portugal e para o clima, uma combinação que permite desenvolver uma atividade destas em dezembro. “É um privilégio do qual temos de desfrutar, porque isto é nosso”, frisa.
“Foi muito enriquecedor. Senti uma grande liberdade e uma grande energia”, garante Marta Salvador. Adepta das três modalidades praticadas, realça “a riqueza ambiental e a variedade das paisagens”, sempre deslumbrantes. A adrenalina inerente à constante troca de modalidades e à necessidade permanente de adaptação são outros dos aspetos que destaca.
Paulo Quelhas não hesita na hora de fazer o balanço. “Foi um dia maravilhoso e fantástico, quer para a prática de BTT, quer para o trail ou para a canoagem”. Para o responsável do BTT Gardunha, esta “é uma das melhores zonas do país para estas práticas” e, por isso, é uma experiência que recomenda a todos quantos gostem de praticar desporto de natureza.
“A GRZ é uma rota da máxima importância em termos de posicionamento estratégico de toda a região em matéria de turismo ativo e de natureza”, diz o coordenador da ADXTUR- Agência para o Desenvolvimento Turístico das Aldeias do Xisto. Rui Simão sublinha o dinamismo do Rio Zêzere, “um produto de excelente qualidade”, do qual se pode usufruir "ao longo de todo o ano” e que “corresponde a todos os tipos de motivação”.
“Foi excecional ver a paixão de gente que já esteve em todo o mundo a percorrer este troço da GRZ”, remata o responsável.
Iniciativa aplaudida pelos autarcas
Esta iniciativa merece também o aplauso da presidente da Junta de Freguesia de Silvares, ponto de partida, e do presidente da Junta de Freguesia de Cambas, onde o dia terminou com um convívio entre todos os envolvidos.
“É um rio que não está explorado a 100% e tem ainda muitos lugares para descobrir. É um rio de águas vivas que realmente deve ser bem aproveitado”, refere Cláudia Pereira, considerando que esta atividade vem “reativar uma rota importante e cativar outras pessoas a fazer este percurso nas várias modalidades possíveis”.
Para Luís Alves, esta iniciativa mostra o potencial do rio Zêzere para a prática de várias modalidades desportivas e representa também um ponto de viragem na divulgação da Praia Fluvial de Cambas. “É um local que tem sido pouco explorado e é importante que o divulguemos”, considera o autarca.
A GRZ está disponível para qualquer pessoa em qualquer altura e pode ser percorrida em autonomia ou com o apoio dos vários serviços disponíveis ao longo de todo o percurso. A segurança é uma prioridade, pelo que é aconselhável um planeamento cuidado. Estamos ao seu dispor para o ajudar a desfrutar ao máximo de tudo o que a GRZ lhe pode proporcionar.
Texto: Andreia Gonçalves