A convite da Câmara de Comércio Italiana em Portugal, as Aldeias do Xisto acolheram um grupo de argentinos, no âmbito do projeto K2 – YRP – Youth Workers and Rural Heritage Promotion, integrado no Programa Erasmus+ da União Europeia. O projecto, que envolve Espanha, Itália, Polónia, Argentina e Brasil, visa promover o património cultural nas zonas rurais e a importância do desenvolvimento económico e social dos territórios. Mari José, Sebastian e Rita partilharam connosco as suas impressões sobre a visita às Aldeias do Xisto.
Rita Achinelli mora em Rosario (Argentina), é formadora em turismo e hotelaria, trabalhando ainda em projetos turísticos de base comunitária. A sua principal área de interesse é o turismo responsável.
“A experiência aqui nas Aldeias do Xisto foi muito interessante... aliás, agora estou com dificuldade em encontrar as palavras certas porque estou muito comovida. Quando um projeto tem a capacidade de comover as pessoas e tocar realmente a sua alma, está tudo dito! É muito interessante todo o trabalho que vocês estão a fazer, porque cada parte da infraestrutura de suporte está pensada em harmonia, ambiental e cultural, com os lugares. E cada coisa que vocês fazem exprime essa cultura. Eu sei que é um trabalho muito difícil, moroso e exigente, mas vocês conseguiram pensar em cada detalhe, percebe-se que nada se fez ao acaso, tudo está pensado com a máxima atenção aos pormenores para contribuir para uma perceção e projeção integrais. Foi uma experiência muito enriquecedora e produtiva, em termos profissionais, mas principalmente humanos, e volto para a Argentina com mais energia para pensar nos meus projetos.”
Mari José Murias estudou política e especializou-se em desenvolvimento de projetos urbanos e “project management”. Dedica-se à planificação e gestão de projetos produtivos para a inclusão social de setores mais vulneráveis da população. Coordena a implementação do Programa de Unidades Productivas NEXO- Oportunidad, no Município de Rosario (Argentina), através da Secretaria de Desenvolvimento Social. Trabalha ainda como consultora no acompanhamento de associações civis, empreendedores e PME’s.
“Ao longo desta visita aprendemos imensas coisas que, fundamentalmente, decorrem de estarmos em geografias diferentes: por exemplo, há enormes diferenças económicas e de financiamento na Europa comparativamente à América Latina; há também questões relativas à capacidade e estrutura institucionais, assente na comunicação, que vocês implementam e que permite a ação através de normas estabelecidas e reconhecidas por todos. Mas, fundamentalmente, o mais relevante é a capacidade de pensar nos projetos num horizonte temporal alargado, e não por períodos fixos. Nós estamos ainda a tentar fazê-lo, com projetos-piloto, vocês já o executam assim há muito tempo, o que dá outra escala e profundidade à aplicação das políticas públicas desde o nível da localidade até ao da região. Outra questão que também me pareceu interessante é a atuação a partir de uma marca, de uma identidade corporativa, reconhecida não só ao nível territorial, produtivo, mas fundamentalmente da própria comunidade. É um conceito de marketing que, para nós, ainda está muito longe, não temos tido o contexto para o poder desenvolver. Creio que é uma das principais aprendizagens sobre uma forma de pensar e construir comunidade para dentro e para fora muito interessante e que nos seria muito útil replicar.”
Sebastian Tordul é originário de uma pequena vila perto de Rosario (Argentina). É engenheiro agrónomo e trabalha numa empresa de agricultura intensiva.
“O que me fica da visita às Aldeias do Xisto é como conseguiram, em conjunto com os habitantes, preservar e, ao mesmo tempo, transformar a imagem deste tipo de comunidades e desenvolvê-las de maneira sustentável – foi o aspeto mais inovador que vi em toda esta viagem, principalmente na ligação com o turismo e o crescimento de pequenas atividades económicas. Aliás, creio que a chave do vosso sucesso é a perfeita integração do investimento privado no projeto, porque não só evita gastos por parte do estado como estimula o crescimento. A experiência foi muito enriquecedora.”
Texto e fotos: Bruno Ramos