Sobre o que se passou neste local até ao final do séc. XII, não existem documentos nem vestígios. A crónica do dominicano Fr. Lucas de Santa Catarina - que recebeu a incumbência de escrever as memórias da Ordem de Malta, editadas em 1734 - fornece alguns elementos históricos sobre Álvaro. Ele refere que então constava por tradição que no tempo da reconquista "certo Cavalheiro (de que se ignora o nome)" teria erigido na maior altura do sítio "uma casa forte, e Castelo".
Embora não se encontre qualquer referência documental ou qualquer vestígio do castelo ou do paço, certo é que ficaram ou foram aplicadas na toponímia local as designações "Chão do Paço" e "Rua do Castelo" precisamente nos locais onde é indicado os mesmos terem existido. Refere ainda aquele cronista que a mesma tradição referia que quando os mouros já não representavam perigo, o cavalheiro se ausentou, deixando "hum criado, por nome Alvaro Pires" que "começou a povoar o sítio, repartindo as suas terras, e chamando cultivadores; beneficio que eles quizerão agradecer, conservando à Povoação o nome do Fundador".
Assim, Álvaro terá sido fundada na linha de defesa contra os mouros, em local estratégico de passagem do Zêzere. Porém, na doação efectuada por D. Sancho I (reinado: 1185-1211) à Ordem de Malta em 1194, não se faz menção a Álvaro, deduzindo-se que a povoação ainda não existiria. Mas em 1345 o Comendador da Ordem de Malta desenvolveu diversas diligências numa disputa com o Rei relativa à posse da Comenda de Álvaro. E D. Fernando (reinado: 1367-1383), em 1381, sancionou esta pretensão da Ordem. Este litígio, sobre a posse de Álvaro e suas terras, ressurgiu com D. Afonso V (reinado: 1438-1481) que em 1455 faz dela doação ao Senhor da Trofa, Gomes Martins de Lemos, tornando-o 1º Senhor de Álvaro.
No início do séc. XVI (1514), Álvaro passa a vila com o Foral Novo de D. Manuel I, altura em que terá sido edificado o pelourinho, hoje desaparecido. Em Carta Régia de 1516 o monarca incentiva ainda os seus habitantes à formação de uma estrutura que dê assistência aos doentes. No entanto, só no final desse mesmo séc. é que se dá a criação da Misericórdia e do seu Hospital, fundada por Catharina Garcia e por seus filhos. Ambas as instituições de assistência funcionaram nas suas próprias casas, como consta de uma escritura realizada a 29 de Julho de 1597, data da construção da Capela da Misericórdia. Em 1712 o Padre Carvalho da Costa referia que a vila, então com 360 habitantes, pertencia ao Marquês de Marialva. Mas, no campo espiritual, mantinha-se como comenda da Ordem de Malta.
Em 1836, com advento do liberalismo e com a reforma administrativa de Mouzinho da Silveira, Álvaro perdeu a sua autonomia administrativa e judicial, sendo integrada como freguesia no concelho de Oleiros.
Lei mais aqui sobre a presença da Ordem de Malta em Portugal e na aldeia de Álvaro.
A origem do nome
Apontam-se duas hipóteses para a origem do nome da aldeia. Refere PIMENTEL (1881) que um criado de nome Álvaro Pires terá ficado encarregue de defender e povoar o sítio, o que terá dado nome à povoação. Por outro lado, álvaro em português arcaico significava álamo ou choupo-branco, espécie característica de zonas ribeirinhas. Certo é que álvaro surge noutros topónimos das proximidades: Porto de Álvaro, junto a Oleiros; Serdeiras de Álvaro e Mata de Álvaro.
Escola Primária
Álvaro teve Escola Primária, edifício construído na época do Estado Novo ao abrigo do denominado "Plano das Construções", em parceria com a Câmara Municipal de Oleiros. Recebeu obras de requalificação em 1973. Actualmente encontra-se em estado de abandono. Localiza-se no extremo poente da aldeia, no local denominado Chão do Paço.
A aldeia também teve padaria, no edifício que possui a única chaminé industrial que se avista.
As invasões francesas em Álvaro
Também a então vila de Álvaro foi ultrajada pelo invasor exército napoleónico.
Relata-se que a Capela da Misericórdia foi transformada em cavalariça. As imagens de Nicodemos e de José de Arimateia foram tombadas e aproveitadas as escavações nas suas partes traseiras como pias para dar de beber aos cavalos. Aqui, também a pedra tumular do Capitão José Rodrigues Freire que deveria ter acabado de ser colocada no piso da Capela do Senhor dos Passos, viu picadas, pela soldadesca napoleónica, todas as palavras “CHRISTO” e “IESUS” que nela constam.
José Rodrigues Freire
Era natural de Álvaro, nascido pobre, foi para o Brasil onde enriqueceu. Chegou a Capitão de Cavalaria do Príncipe. Foi condecorado com o hábito de Cristo, o que, naquele tempo, era grande honra. Consta que um dia, na selva, por distração, quase se teria sentado sobre uma jiboia. Tendo escapado da situação sem qualquer ferimento, logo resolveu dar graças da sua sorte no templo da sua terra.
A barca que fazia a travessia do Zêzere
Aqui o Zêzere nunca teve ponte. A travessia esperava pela escassez de água no estio ou era feita em barca, à força de braços ou a vau durante a estiagem.
Nas décadas de 1960/1970 a passagem, de barca ou batelão, era paga: cada pessoa 1$00; cada cabra ou ovelha $50; cada junta de bois 4$00. Em 1983 a inauguração da ponte provocou o desaparecimento da barca.