ALDEIAS

Cerdeira

serra da lousã
Serra da LousãCerdeira
Cerdeira
cerdeira, lousã
Onde vive a inspiração. Percorrer a aldeia é um exercício físico e sensorial. A cada passo há um recanto, um beco, um elemento que não se sabe se ali foi colocado pelo Homem ou pela Natureza. Não há dissonâncias. Há o som da tranquilidade.

Ao entrarmos na Cerdeira, descendo até ao pequeno regato, deparamos com o perfil desalinhado das construções. O tom dominante do xisto sobrepõe-se ao verde das encostas, ao azul do céu ou ao branco das nuvens.

Os habitantes desta e de outras aldeias deverão ter frequentado a universidade da serra. Os edifícios foram implantados sobre um morro rochoso, não ocupando as escassas áreas mais planas que dedicaram à agricultura. Uma obra de engenharia rodeou a aldeia com uma escadaria de socalcos que seguram a terra que as chuvas e a erosão levavam encosta abaixo. A implantação e a arquitetura das construções parecem ter obedecido a um plano que teve como objetivo maravilhar os visitantes no século XXI.

A Cerdeira é um local mágico. Logo à entrada, uma pequena ponte convida-nos a conhecer um punhado de casas que espreitam por entre a folhagem. Parece que atravessamos um portal para um mundo fantástico. Tudo parece perfeito neste cenário profundamente romântico. O chão de ardósia guia-nos por um caminho até uma fonte no meio de uma frondosa vegetação.

Entre encostas declivosas rasgadas por linhas de água que se precipitam lá do cimo, a Cerdeira aninha-se na mais bucólica envolvente. Esta é uma aldeia que a arte e a criatividade ajudaram a refundar. É, atualmente, um local de criação artística, através de residências artísticas internacionais, da realização de workshops de formação e de pequenas experiências criativas, em suma, um lugar para retiros criativos, de bem-estar, tirando partido da sua riqueza natural, do silêncio e de todas as infraestruturas criadas: os alojamentos, a Escola de Artes e Ofícios, os ateliers, a Biblioteca, a Galeria, o Forno comunitário, o Café da Videira e a Taberna das Artes.

Anualmente, em julho, a aldeia acolhe o festival Elementos à Solta – Art meets Nature, que reúne criadores contemporâneos de diferentes áreas e transforma a aldeia numa galeria de arte ao ar livre, com espaço para todo o tipo de expressão artística.

  • território

    É uma das cinco Aldeias do Xisto do concelho da Lousã, tal como as restantes, localizada na profundamente escavada bacia hidrográfica da Ribeira de São João, o principal curso de água a drenar este flanco da serra, a oeste do seu ponto mais elevado (Trevim, a 1204m).

    A aldeia desenvolve-se quase na vertical de uma encosta, ao longo da qual o pardo casario de xisto forma como que uma escadaria. Entre as casas, uma única e íngreme viela transporta-nos, num traçado sinuoso, ao topo e ao fundo da aldeia.  Entre encostas declivosas rasgadas por linhas de água que se precipitam lá do cimo, a Cerdeira aninha-se, na mais bucólica envolvente. Em linha recta o ponto mais alto da serra está ali, a pouco mais de mil metros. Mas visto da aldeia parece que toca o céu.

  • natureza

    A Cerdeira está integrada no Sítio de Importância Comunitária da Serra da Lousã, da Rede Natura 2000. Frequentemente encontramos veados mesmo à entrada da aldeia. Ao entrar na aldeia passamos uma ponte de madeira que cruza um pequeno riacho. Mas, do vale, no fundo da aldeia, eleva-se o canto tumultuoso de águas agitadas. Como parte de um presépio disposto na encosta da serra voltada a sul e poente, a aldeia da Cerdeira tomou espontaneamente a configuração de um teatro entrecortado pelo sulco serpenteante de uma ribeira. É a Ribeira da Cerdeira, que transporta as águas que se precipitam das encostas ocidentais mais elevadas da Serra da Lousã.

    O movimento da água parece querer animar a aldeia que estabelece uma íntima relação com o curso de água, ao longo do qual se foram instalando alguns moinhos e sistemas de rega. Aqui passam, em rápida corrida, as águas que caíram no Trevim no seu percurso para encontrarem a Ribeira de S. João, o rio Arouce, o rio Ceira e o rio Mondego.

  • história e estórias

    Em termos gerais, a história desta aldeia é comum às histórias das restantes quatro Aldeia do Xisto do concelho da Lousã.  A fixação da população nas aldeias da Serra da Lousã terá ocorrido a partir da segunda metade do séc. XVII ou pelo início do séc. XVIII. Até então a ocupação seria apenas sazonal, na primavera e verão, nomeadamente com atividades pastoris. De facto no “Cadastro da população do reino (1527)“ nenhuma destas aldeias é referida no termo da Lousã.  Os documentos mais antigos que indiciam a sua ocupação são uma multa infligida pela Câmara da Lousã em 1679 e o registo de propriedades foreiras ordenado por D. Pedro II, de 1687.

    No início do séc. XIX apenas o Candal e a Cerdeira escaparam ao saque do exército napoleónico. Em 1885 a população das sete aldeias (as cinco Aldeias do Xisto, mais Catarredor e Vaqueirinho) corresponderia a 8,7% do total da freguesia da Lousã (5340 habitantes).

    Teve seis moinhos hidráulicos e dois rebanhos, com um total de 800 cabeças. O Plano de Fomento Florestal do Estado Novo, do início da década de 1940, arborizou as áreas de pastoreio e ditou o declínio desta e das outras aldeias.
    Referem os censos que o maior número de habitantes se registou em 1940: eram 79.

    A origem do nome
    Cerdeira ou Sardeira, em português antigo, identifica a árvore que, hoje em dia, é mais vulgarmente designada por cerejeira. Presume-se que o lugar da aldeia exibira elementos desta espécie, até porque o local é propício à ocorrência espontânea e ao desenvolvimento desta árvore.

    O fim do mundo
    O nosso mundo pode acabar de muitas maneiras. Para os três últimos habitantes primitivos da Cerdeira, o fim do mundo aconteceu na década de 1970, após uma discussão sobre a partilha de um bem escasso: a água. Augusto Constantino teve o azar de esboçar com o sacho um golpe ameaçador, mas que bastou para acabar com a vida na aldeia. O realizador português João Mário Grilo, em 1992, adapta a história para argumento do seu filme “O fim do mundo”, de 64 minutos, ficcionando o fim desse ciclo da aldeia. O argumento não retrata a verdade dos acontecimentos. De facto, Constantino sempre foi um homem respeitado na aldeia. E em 1983, depois de cumprida a pena, regressou. O seu antigo mundo tinha acabado. Mas encontrou um mundo novo, de braços abertos, onde viveu durante nove anos, ensinando e partilhando os seus conhecimentos com alguns dos atuais habitantes. Justiça à sua memória.

    Povo que canta
    No início da década de 1970, Michel Giacometti e o realizador da RTP, Alfredo Tropa, deambularam durante dois anos por todo o País, efetuando uma memorável recolha sobre a música popular portuguesa. No Santo António da Neve, recolheram manifestações musicais que ocorriam aquando daquela romaria. Um dos intérpretes populares era um habitante da vizinha povoação do Franco.

  • património

    A aldeia dispõe, basicamente, de uma ruela, declivosa, que liga o seu topo à ribeira que corre no fundo do vale. As construções dispõem-se irregularmente ao longo dela, com pequenos recantos entre elas. O material de construção predominante é um xisto escuro e nenhuma fachada se encontra rebocada.

    Os edifícios da Cerdeira guardam, depois de recuperadas, as memórias e a arquitetura de outros tempos. A tradicional pedra de xisto é usada tanto nas habitações como nos currais para animais, e ganha reflexos muito especiais quando o sol atravessa o ar húmido da serra. Ao crescer sobre o terreno inclinado, o casario foi-se implantando de frente para o astro-rei e os caminhos esculpiram-se nos afloramentos rochosos sem distinção clara entre o público e o privado, resultando em ambientes intimistas, como autênticas gravuras.

    Merecem destaque:

    • Capela Nº Srª de Fátima
    • Fonte
      Construída em 1938 pela Câmara Municipal da Lousã, no caminho pedonal de acesso à aldeia. Com água de nascente.
    • Alminha
      Corresponde a um nicho na fachada de uma casa particular. No seu interior, uma tábua pintada é um ex voto dedicado ao Senhor dos Aflitos, cujo texto mantém toda a atualidade:
      MILAGRE QUE FEZ O SENHOR DOS AFLITOS
      Á ALDEIA DA CERDEIRA QUE NÃO A DEIXOU
      MORRER E QUE SEMPRE PROTEGEU
      OS FILHOS DA CERDEIRA POR ESTE MUNDO FORA
    • Casa das Artes e Ofícios
      Foi reconstruído ao abrigo do programa ECO-ARQ segundo critérios de eco-reabilitação: emprego de materiais e técnicas de construção locais, com baixa emissão de CO2 (pedra de xisto e argamassa de barro, madeira de castanheiro e placas de granulado de cortiça como isolamento térmico). Hoje alberga iniciativas de turismo criativo e artístico.
  • festividades
    • Julho ou Agosto: Festa de Nossa Senhora de Fátima - Festa da aldeia
    • Julho: Encontro dos povos serranos (Santo António da Neve)
    • 2º fim de semana de Julho: Elementos à solta - Art meets nature
  • produtos
  • como chegar

    De Norte e de Sul
    Seguir pela A1 até à saída n.º11 (Lousã/Condeixa). Seguir a N342 em direcção à Lousã. Chegando à Lousã, seguir pela N236 em direcção a Castanheira de Pera, até encontrar a placa indicativa da Aldeia.

  • nome dos habitantes
    cerdeirenses
  • padroeiro
    nossa senhora de fátima
  • ex libris
    caminho de acesso à aldeia e vestígios artísticos

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