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À Roda da Olaria e à Mesa da Serra: um portal para um mundo novo

06 abr 2025
À Roda da Olaria e à Mesa da Serra: um portal para um mundo novo
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Uma viagem que começou com uma imersão na arte milenar que é moldar o barro numa roda de oleiro e terminou com uma degustação exclusiva.

Não importa quantas vezes já se chegou à Aldeia do Xisto da Cerdeira. Faça chuva ou faça sol, é impossível avançarmos para o caminho de xisto que nos leva à aldeia sem pararmos para apreciar a paisagem e a beleza das casas envolvidas pelo verde da Serra da Lousã. E, claro, sem pegarmos no telemóvel ou na máquina fotográfica para guardar a vista numa imagem, que, por melhor que seja a lente, não faz justiça ao que os olhos alcançam.

Esta é só a primeira prova a dar sentido ao conceito em torno do qual se desenvolve o Xclusive Xisto: há experiências que só se vivem uma vez. De cada vez.

E essa sensação perdura em cada momento que ali passamos. O quentinho do Café da Videira, as casas recuperadas, as cores do xisto, o cheiro a madeira junto ao forno sem fumo, a calma e simpatia com que somos acolhidos ou a sensação de, pela primeira vez, nos sentarmos numa roda de oleiro, abraçarmos o desafio de dar forma ao barro com as nossas próprias mãos e criar peças que hão de ir para casa connosco.

O Xclusive Xisto, concebido para pequenos grupos, convida os visitantes a valorizarem cada momento de forma autêntica e personalizada, promovendo o contacto com a natureza, a cultura e a população local.

A Cerdeira foi o cenário escolhido para acolher a experiência À Roda da Olaria e à Mesa da Serra, a primeira proposta do programa, que aconteceu de 4 a 6 de abril. Uma viagem que começou com uma imersão na arte milenar que é moldar o barro numa roda de oleiro e terminou com uma degustação exclusiva onde a criatividade do Chef João d’Eça Lima, do Restaurante Xisto, localizado na Louçainha, e a autenticidade de uma herança de sabores e produtos locais se juntam à mesa.

“O barro é que vai dizer o que precisa”

Gostam das Aldeias do Xisto e têm percorrido algumas. “Há quinze dias, estivemos no Talasnal, onde se come o melhor bolo de chocolate do mundo”, contam-nos Soraia e Eduardo. Tiveram conhecimento do Xclusive Xisto pelas redes sociais e não hesitaram em rumar de Almada até à Cerdeira e viver uma experiência com tudo incluído, num lugar que já planeavam visitar.

Sentaram-se em frente a uma roda de oleiro pela primeira vez e, ao longo de mais de duas horas, moldaram e sentiram o barro, deixando que os guiasse quanto às peças a criar.

“O barro vai dizer muita coisa, quando quer água, quando é para parar, ele é que vai dizer o que precisa”, explicava Rita. A formadora de serviço começa por fazer uma breve apresentação teórica para, depois, apoiar e incentivar a criatividade de cada um dos participantes.

Ao longo do processo, as conversas e partilhas surgiram naturalmente, tirando partido de um ambiente descontraído e intimista

“Em Almada, estas coisas não se ensinam na escola”, disse, com pena, Soraia, depois de mencionarmos a Casa do Barro, localizada no Telhado, Fundão, e as atividades aí desenvolvidas com alunos de algumas escolas do concelho, onde também os bombos e a tecelagem têm destaque.

“Foi uma experiência muito gira, com a duração certa”, disse Soraia no final. Eduardo manifestou-se surpreso com o processo, mais desafiante que o que antecipava. “Nem imagino como é fazer um daqueles vasos grandes”, dizia, apontando para algumas das peças em exposição na sala.

Vinda de Braga, Joana veio passar o fim de semana no Candal. Trabalha na área farmacêutica, mas encontrou nas artes manuais uma paixão e planeia, em breve, abrir um atelier dedicado especialmente à madeira. Há algum tempo que queria visitar a Cerdeira e fazer este workshop, pelo que não pensou duas vezes quando surgiu uma vaga de última hora. “Foi ótimo, recomendo muito”, garantiu.

Uma mesa corrida e um momento coletivo de partilha

Como se previa, o jantar foi o ponto alto desta experiência. À volta de uma mesa corrida sentaram-se 14 pessoas quase todas desconhecidas entre si. Pequenas conversas, de um para um, foram dando espaço ao convívio e transformaram-se num momento coletivo de partilha, em que todos falaram de si, do mundo, do momento.

Um momento que, tal como se pretendia, não foi um mero jantar. Foi um portal para um mundo novo, em que o espírito do lugar ganhou destaque, e um estímulo para ir ainda mais dentro do território.

Em cima da mesa, foram surgindo as propostas do Chef João d’Eça Lima, do Restaurante Xisto, numa verdadeira e elegante homenagem aos produtos endógenos. Os chás de rúbios e de hortelã prepararam o palato para a manteiga de alheira, o escabeche de pato e os queijos de cabra e ovelha do Rabaçal. Especialmente concebidos para o Xisto, foram acompanhados por doces regionais. Seguiram-se as bochechas de porco com arroz de espargos selvagens. Tudo bem harmonizado com tintos, brancos e rosés também da carta do Xisto. Para terminar, uma sobremesa a condizer com as emoções: ovos suspirados. Porque, entre abraços e promessas de reencontros, foi mesmo a suspirar, que se fechou o dia.

O Xclusive Xisto prossegue no fim de semana de 25 a 27 de abril, em Aldeia das Dez, Oliveira do Hospital. A gastronomia volta a estar em destaque, desta feita com o contributo do Chef Diogo Rocha, detentor de uma Estrela Michelin. Para tornar a experiência ainda mais especial, juntámos-lhe um concerto XJazz – Encontros do Jazz nas Aldeias do Xisto. Saiba todos os detalhes e reserve o seu lugar AQUI.

“O programa Xclusive Xisto representa um novo ciclo para as Aldeias do Xisto. Com a mesma filosofia de sempre, queremos posicionar a marca como uma referência da exclusividade, onde o autêntico e o irrepetível se juntam em experiências que só se vivem uma vez, de cada vez”, explica Rui Simão, diretor-executivo da ADXTUR – Agência para o Desenvolvimento Turístico das Aldeias do Xisto.

Curiosidades

- O barro utilizado no workshop veio do concelho vizinho de Miranda do Corvo. A cor avermelhada deve-se à forte presença de ferro na sua composição;

- Os oleiros tradicionais trabalham sem chamote, uma espécie de areia que dá mais textura e resistência ao barro. A presença da chamote vê-se e sente-se nas mãos: a cor altera-se e o barro ganha mais rugosidade;

- Devido a essa rugosidade, quem trabalha o barro com chamote durante muito tempo, fica com as impressões digitais desgastadas;

- A equipa da Escola de Artes e Ofícios gosta de criar as suas próprias ferramentas. Assim, um fio de pesca com um pedaço de uma rolha em cada uma das pontas é um garrote para cortar o barro e um pequeno pau apanhado na floresta envolvente, com uma esponja presa numa ponta, serve para tirar o excesso de água das peças.


Texto e imagens da Cerdeira:
Andreia Gonçalves

Imagens do workshop:
Miguel Proença

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