Cerca de mil ciclistas de 12 países participaram no 7° Gran Fondo Aldeias do Xisto, que, pela primeira vez, partiu do Fundão. Depois de seis edições na Lousã, a Gardunha, o Açor e o Rio Zêzere serviram agora de cenário a um evento que reforça as potencialidades e a excelência das Aldeias do Xisto para a prática de ciclismo, de lazer ou de competição, ao longo de todo o ano.
Esta mudança de quartel-general do Gran Fondo, que se integra no projeto Cyclin’ Portugal, “é um desígnio natural”, que traz “novos trajetos” e mostra “a riqueza e tudo o que o território das Aldeias do Xisto tem para oferecer aos ciclistas e a quem gosta de ciclismo”, refere o diretor da prova, António Queiroz.
A “relação simbiótica” entre desporto e turismo é a ideia vincada pelo presidente da ADXTUR- Agência para o Desenvolvimento Turístico das Aldeias do Xisto. Paulo Fernandes refere que o Gran Fondo é “o maior evento de ciclismo alguma vez feito no Fundão” e dá novos territórios “a descobrir”, sendo de destacar que, entre os participantes, há pessoas que nunca estiveram na região.
O coordenador da ADXTUR reforça a ideia, chamando a atenção para o facto de este novo percurso trazer “paisagens nunca percorridas e, nalguns casos, icónicas, como é o caso da subida do Cabeço do Pião até à Barroca Grande, Minas da Panasqueira e Alto do Xiqueiro”. Rui Simão destaca ainda a “vitalidade que a prova leva para dentro das aldeias, enquanto pontos de passagem e de abastecimento, que também nos enriquece”.
“Já participei em algumas provas e já andei de bicicleta em alguns sítios, como França e Espanha, mas este percurso é o melhor de todos. É duro, é bonito, é o melhor”.
As palavras são de Bruno Nogueira, vencedor do Gran Fondo Aldeias do Xisto. O atleta da Addict Bikes, que participou pela primeira vez nesta prova, isolou-se logo no início da corrida, tendo percorrido sozinho cerca de 130 km. “É difícil fazer isto numa prova com participantes de grande qualidade”, considera. Bruno Nogueira é natural do Fundão e, também por isso, esta foi uma vitória com sabor especial.
O pódio ficou completo com Rui Sá, da Love Tiles, no segundo lugar, e Daniel Ferreira, da Danibikes - Scott, que se classificou na terceira posição.
No setor feminino, a vencedora foi Flávia Lopes, da formação Vasconha BTT Vouzela. Inês Trancoso, da Maiatos/Reabnorte, ficou em segundo, e Guadalupe Barrena, da Bikeshop Team, alcançou o terceiro lugar.
Michel Machado foi o mais rápido a percorrer os 110 km do Mediofondo. “É sempre bom ganhar”, disse o atleta da formação Vasconha BTT Vouzela, admitindo que a prova lhe exigiu “muito sacrifício”, apesar de já conhecer algumas partes do percurso. “Arranquei muito atrás e foi preciso muito esforço para ultrapassar todos os atletas”, justificou. Michel Machado mostrou-se agradado com o percurso definido pela organização e entende que a mudança foi uma boa aposta.
Gil Santos, do GDR Canaviais Comprarcasa Évora, ficou em segundo e Alexandre Guilhoto, da Marques & Pereira/Em3/Os Beirões, classificou-se na terceira posição.
No feminino, Ana Neves, da Bike & Nutrition Shop, foi a vencedora. Carina Morais e Rita Reis, colegas da formação Gruppetto D'Arrábida/ /All4bikes, terminaram a prova no segundo e terceiro lugares, respetivamente.
A classificação completa está disponível aqui.
No final, o balanço é positivo. António Queiroz explica que a maior preocupação é sempre a segurança. Não houve incidentes a registar e “a maior parte das pessoas chegou satisfeita”.
Foi também com “muita satisfação” que a organização chegou ao fim, sublinhando o “grande impacto” que o evento tem na região, pelo número de pessoas que movimenta. “Os participantes acabam por se fazer acompanhar pelas famílias e amigos”, explica o diretor de prova.
Famílias acompanham os atletas
Uma realidade facilmente comprovada nas ruas em torno do local de partida e chegada.
Margarida e José Mesquita aproveitam a sombra das árvores do Jardim Municipal do Fundão para aguardarem a chegada do filho, Nuno Mesquita, um dos participantes do Granfondo.
Vêm da Moita, Setúbal, para acompanhar o atleta, que participa com frequência nestas provas. “Ainda na semana passada estivemos em Monção e, antes, estivemos na Régua, Lousã, Castelo de Vide”, conta Margarida. Na Lousã, à semelhança do que fazem noutros locais, aproveitaram para passear e, além do Castelo, visitaram as Aldeias do Xisto do Talasnal e do Candal.
No dia anterior à prova, fizeram também questão de conhecer o Fundão. Mostram-se agradados com a parte nova da cidade e com a hospitalidade das gentes com quem se cruzaram. “As pessoas são simpáticas e prestáveis”, dizem.
António Barata e Carla Menezes vieram da Lousa, Castelo Branco, para apoiar e prestar assistência a Tiago Barata, filho e marido, respetivamente. “Ele faz estes percursos com alguma frequência e até agora está tudo a correr bem”, começa a contar o pai. Carla manifesta-se satisfeita com a realização da prova no Fundão.
“A deslocação é mais fácil e dá a conhecer uma região que também tem potencialidades para a prática de ciclismo e que praticamente não tem provas desta magnitude".
É enquanto conversamos que Tiago cruza a meta.“É um percurso bonito, mas duro”, que correspondeu às expectativas: chegar ao fim, conhecer pessoas e divertir-se. “É o mais importante”, garante.
“Chegou cansado, mas, apesar do percurso irregular, gostou”, diz Ana Margarida Almeida, que veio da Póvoa da Galega, Malveira, com os dois filhos, para acompanhar o marido, Nuno Almeida, inscrito no Granfondo. Foi a primeira vez que acompanharam de perto uma prova - “ele costuma vir com um colega, que desta vez não pôde vir” - e acabou por ser “uma viagem em família”. “Até tivemos que alugar uma casa”, partilha entusiasmado o pequeno Lourenço, enquanto a irmã mais nova faz a sesta no carrinho.
Unidades hoteleiras lotadas
Foi um fim de semana em cheio para a hotelaria do Fundão e arredores. O vice-presidente da Câmara Municipal do Fundão dá conta do “impacto turístico” que teve a realização do Gran Fondo na cidade.“Esgotámos todos os alojamentos”, disse Miguel Gavinhos, considerando que além da vertente desportiva, há uma “vertente turística que nos interessa afirmar”. O autarca sublinha que este evento “inscreve-se numa visão mais profunda daquilo que é o Fundão como destino de bicicleta”. Segundo o vice-presidente, este ano já se realizaram eventos de duas rodas que, no conjunto, chegaram quase aos três mil participantes.
Maria Boto veio da Covilhã para assistir à chegada dos ciclistas e enaltece a iniciativa. "É muito bom que estas coisas aconteçam. É bonito e divulga muito a zona. É bom para quem participa e para quem cá está", considera.
O mesmo entende Cristina Salvado, cujo marido participou na prova. "Estar em casa tem vantagens a todos os níveis", diz.
Um percurso duro, mas bonito
Américo Silva veio de Cascais para participar no Mediofondo com as cores da EFAPEL, a equipa de ciclismo apoiada pelas Aldeias do Xisto e da qual é o diretor desportivo.
Já participou em edições anteriores, pelo que é com propriedade que compara os percursos. “Gosto dos dois, mas este acaba por ser mais bonito em termos de paisagem”, refere. A participação correspondeu às expectativas. Classificou-se em 25º lugar na geral, ficou no primeiro lugar da categoria Masters C e divertiu-se. Ao lado, Pedro Capela, vindo de Alverca, concorda. “Correu bem”, diz, considerando que, em termos de exigência, os percursos são parecidos.
O Mediofondo foi também o percurso escolhido por João Cruz, natural do Fundão, que assim se estreou em provas de estrada. “Já tinha feito o reconhecimento e achei que era mais bonito e divulgava mais as Aldeias do Xisto”, conta o atleta do BTT Gardunha. “Foi um pouco duro, correspondeu às expectativas de uma prova desta natureza”, acrescenta, mostrando-se satisfeito com o resultado final: ficou em sétima posição na classificação geral e subiu ao segundo lugar do pódio na categoria Elites.
“O que é que se vai passar aqui, menina?”, pergunta-nos, já no final do dia, um senhor. “Foi uma prova de ciclismo, mas já terminou”, respondemos. “Moro mesmo aqui e não me apercebi. Que pena!”, ouvimos de volta. “Não se preocupe, para o ano há mais”, respondemos de novo.
Pois é, para o ano o Gran Fondo regressa ao Fundão e promete, mais uma vez, espalhar o colorido dos ciclistas pelas cativantes paisagens da região e proporcionar momentos de convívio para mais tarde recordar.
Texto: Andreia Gonçalves