O animal é escaldado e o pelo é retirado por raspagem. A presença da pele permite, durante o tempo de assadura, manter a suculência e o sabor. É um prato característico do concelho de Oleiros.
Histórias e curiosidades
Das origens deste delicioso repasto Oleirense ouvem-se muitas histórias que, através de relatos e experiências, vão sendo passadas de geração em geração.
- A primeira referência surge num livro de culinária do Al-andaluz medieval, que fala de um borrego estonado com óleo;
- Em 1624, o missionário Oleirense, António de Andrade, o primeiro ocidental a escalar os Himalaias e a chegar ao Tibete, nos relatos da sua expedição e abordando os costumes daquelas gentes, realça o facto de não esfolarem os carneiros e cabras que comem, mas antes comerem-nas com a pele chamuscada, tal como em Oleiros.
- Já no séc. XIX, Alexandre Dumas descreve, deliciado, a experiência de comer um borrego preparado à moda do deserto, na Tunísia, também assado com a pele.
- Corria o ano de 1961, quando no Concurso Nacional de Cozinha e Doçaria Portuguesa, promovido pelo SNI e a RTP, Oleiros se fez representar com o Cabrito Estonado, tendo Aura Martins Romão obtido o primeiro prémio na categoria Cozinha.
- No mesmo ano e na sequência deste concurso, Aura Romão participou no programa de culinária da RTP de Maria de Lourdes Modesto.
- Em 1982, o Cabrito Estonado foi um dos pratos selecionados para integrar o livro desta célebre gastrónoma intitulado “Cozinha Tradicional Portuguesa” e um dos livros de culinária mais lido em Portugal.
- Posteriormente, em 1997, os CTT produziram a coleção de 12 selos “Cozinha Tradicional Portuguesa”, constituída por pratos tradicionais provenientes das várias regiões. No caso da Beira Baixa, foi escolhido o Cabrito Estonado de Oleiros. Esta coleção deu origem ao livro “Comer em Português”, do Clube de Colecionadores dos CTT, cuja autoria se deve a José Quitério e Homem Cardoso e no qual a especialidade oleirense é referida como um produto único e genuíno.
- Em 2008, esta forma original de confecionar cabrito assado no forno integrou uma seleção de 10 bens gastronómicos portugueses que importava valorizar e preservar. Para o efeito, foi produzido o documentário “Os Gestos dos Sabores – das memórias ao futuro”, promovido pela Associação “As Idades dos Sabores”, onde é enaltecida a genialidade deste prato.
- O ano de 2009 ficou marcado pelo arranque do Festival Gastronómico do Cabrito Estonado e do Maranho – evento anual que vai já na sua 7.ª edição e que conta com a adesão de 10 restaurantes participantes e motiva a vinda de milhares de pessoas a Oleiros.s
- No mesmo ano, no artigo do chef Avillez "Loucuras Milionárias de chefs e Clientes - As Maiores Extravagâncias Gourmet", publicado na revista Sábado de 26 de fevereiro, vêm em destaque os produtos mais exclusivos e as ementas mais caras, conhecidas no mundo gastronómico. Neste artigo, o chef Henrique Mouro relata que o prato mais impressionante pela sua confecção e resultado final, foi um Cabrito Estonado de Oleiros que era elaborado e servido no Domingo de Páscoa no Hotel Carlton Palace, em Lisboa.
- Corria já o ano de 2011, quando o Cabrito Estonado de Oleiros foi candidatado às 7 Maravilhas Gastronómicas de Portugal, na categoria das carnes. Este concurso foi uma iniciativa do Ministério da Agricultura, da Secretaria de Estado do Turismo e da RTP.
- A 31 de Maio de 2015 é criada, em Oleiros, a Confraria Gatsronómica do Cabrito Estonado
Uma receita
Ingredientes: um cabrito, banha, colorau, dentes de alho, pimenta preta, presunto, sal, vinho branco.
O cabrito deve ser cabritinho, até mês e meio. Morto o cabrito estona-se, isto é: mete-se o cabrito pouco a pouco em água a ferver e tira-se-lhe o pelo à medida que vai sendo escaldado. Tem de se ter cuidado para não se ofender a pele. Depois de estar estonado, retiram-se as tripas e as vísceras ao cabrito. Lava-se muito bem lavado, ficando a escorrer de um dia para o outro. Pelo o outro dia barra-se o cabrito com pasta feita com o alho, pimenta, sal e vinho branco. Migam-se os miúdos do cabrito, junta-se o presunto também bem migado, a salsa e o louro. Estes bocadinhos fazem um recheio ao qual se junta a um pouco da pasta que o barrou e mete-se na barriga do cabrito, sendo a abertura cozida com agulha e linha. Assim fica três ou quatro horas. Barra-se o cabrito com a banha e coloca-se nos paus de loureiro que estão na assadeira de barro a fazer de grade. De vez em quando rega-se com vinho, e quando estiver tostado de um lado, vira-se para assar do outro.
Receita obtida junto da Sra. D. Maria do Carmo – Álvaro.